quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Dúvida Lilianny

Boa tarde, Drª Norma. Lendo o histórico de dúvidas deste consultório, encontrei uma que sempre me confundiu também. Trata-se do caso do "demais" e "de mais". Sobre isso, estava lendo um texto bem (com hífen, sem hífen?) humorado sobre o polêmico livro do MEC, na coluna do Agemenon, em que ele usa a seguinte construção: Num caso flagrante de gramaticofobia, os livros escolares agora estão ensinando que falar e escrever errado não tem nada DEMAIS". Considerando que é um texto humorístico no qual ocorrem muitas palavras ditas "fora do padrão culto", esse uso do "demais" estaria certo ou errado?

Querida Lilianny,
Suas perguntas são pertinentes e acredito que muitas pessoas tenham estas mesmas dúvidas, porém vamos com calma as questões.
Sobre o emprego do hífen na palavra bem-humorado o novo acordo ortográfico diz o seguinte:
Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h. No entanto, o advérbio bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante.
Exemplo: bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado, mal-afortunado.
Em muitos compostos o advérbio bem aparece aglutinado com o segundo elemento, quer este tenha ou não vida à parte: benfazejo, benfeito, benfeitor, benquerença, etc.
Satisfeita com a explicação, passemos a próxima aflição.
Como você mesma identificou, devemos sim verificar o contexto no qual nos encontramos para nos adequarmos. Principalmente em uma conversa ou outros atos concretos da fala. No caso do texto escrito, toda enunciação, mesmo produzida sem a presença física de um destinatário, como no caso do discurso escrito, é marcada por uma interatividade constitutiva, definida como uma troca explícita ou implícita, com outros enunciadores, virtuais ou reais, em relação à qual o enunciador constrói seu próprio discurso. Por isso, não devemos pensar sempre em classificar em “certo ou errado”. O que importa para decidir o caso de usar “demais ou de mais” não é como classificar uma ou outro, mas o significado apresentado por cada uma delas.
Vamos aos usos:
“Demais” funciona como advérbio de intensidade. Acentua o valor de verbo, adjetivo ou advérbio e significa "muito", "muitíssimo", "extremamente", "excessivamente", "em demasia".
"Demais" também pode ser pronome indefinido, quase sempre precedido de artigo, com o significado de os outros, os restantes, os mais.
"De mais", preposição e advérbio, geralmente expressam a noção de quantidade, com significado aproximado de a mais, como oposto de menos, mas também pode expressar anormalidade, estranheza. Tem função adjetiva; acompanha substantivos ou palavras substantivadas.
Então de acordo com a norma culta padrão Lilianny, no período acima “de mais” seria melhor empregado. Pois teria o seguinte significado. “não há nada de estranho, anormal falar e escrever errado”.
Curiosa e justificável essa osci¬lação, porque a classe adverbial é um tanto difusa, como lembra Celso Cunha.

Drª Norma

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