sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Verbos abundantes

Olá, Dra. Norma,
observando a recorrência dos meus problemas com as formas nominais, talvez eu seja hipocondríaca, mas, a partir de uma pergunta respondida pela senhora acerca das formas incluso/incluída, relembrei uma grande dúvida minha e espero ter assistência.
Quando faço uso do particípio, nunca sei quais verbos são abundantes. Lembro-me de que as professoras escolares sempre disseram que esse caso não tem jeito, que é necessário decorar a lista, mas nunca tirei da cabeça que ao menos deva existir um fato linguístico que explique a existência de duas formas para determinados verbos. É minha mania de doença com as formas nominais que se manifesta aqui ou essa minha impressão se confirma? Se sim, como? 

Obrigada pela atenção!

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Um comentário:

  1. Cara hipocondríaca,
    para responder a sua questão busquei a Gramática Histórica da Língua Portuguesa, de M. Said Ali, e a partir dela acredito que poderei sarar seus males, ou indicá-la uma terapia. De qualquer forma, começarei partindo do fato que existe uma regra geral para a formação do particípio, que é a de mudar a terminação do infinitivo: -ar, por -ado, -er ou -ir por -ido. Devido a sua tara por questões de cunho nominal, vou apresentar-lhe uma curiosidade interessante, a existência de uma terminação –udo para os verbos de 2ª conjugação, no particípio do português antigo, que caiu em desuso.

    sabido – sabudo
    perdido – perdudo
    metido- metudo

    Apesar da regra para a construção dos particípios regulares, algumas formas ficaram livres desse processo nivelador desde o começo do idioma português, por questões que apenas a filologia poderá revelar. Cito exemplos como: feito, escrito, coberto, aberto, posto etc.

    Alguns verbos têm ou tiveram dois particípios, um regular (-ado/-ido) e um irregular, proveniente do latim ou criado no próprio português. A história destes particípios pode variar de verbo para verbo. Para evitar que dois particípios diferentes tenham o mesmo papel, procura-se eliminar um deles ou, então, dar-lhes aplicação diferente.

    Essa aplicação diferente é a que damos, por exemplo, no verbo “acender”. Junto com o verbo “ter”, usamos a forma regular e, junto com o verbo “ser” ou quando o valor é de adjetivo isolado, usamos a forma irregular.

    Exemplos:
    Ainda não tínhamos acendido a vela, quando a luz voltou.
    Foram acesas todas as lâmpadas do palácio.
    Fósforo aceso.

    Como para toda regra há uma exceção, e essas são abundantes no português, existem verbos que têm apenas formas irregulares, outros têm formas regulares e irregulares, mas não seguem exatamente a regra acima.

    O que podemos concluir é que o que faz esses particípios surgirem ou desaparecerem é o uso. Atualmente, os verbos “ganhar”, “gastar” e “pagar”, por exemplo, são usados apenas no particípio irregular: “ganho”, “gasto” e “pago”.

    Outro dia li o depoimento de um jovem que dizia: “Vergonha é roubar e ser caço. Eu já roubei e nunca fui caço”.

    Por isso, tenho a infelicidade de comunicá-la que não há uma regra para isso, apenas anos de estudo em história da língua e acompanhamento psicológico poderão ser a salvação.

    Espero ter ajudado.
    Dr. Norma

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